"Na manhã do dia 15 o Conde d'Eu e a Princesa Isabel faziam, pelas imediações do palácio, o habitual passeio a cavalo na companhia dos filhos, percorrendo laranjeiras até a praia do flamengo- "sem sombra de preocupação", dirá o Conde depois à Condessa de Barrai. O aspecto das ruas e dos transeuntes, a igual de toda a cidade, era o mesmo de sempre. Foi só na volta à casa, quando Gastão se pôs a ler os primeiros jornais do dia, que ele deparou com uma notícia incerta no Diário do Comércio, sobre um "movimento de indisciplina" que teria havido na Escola Militar, e que levará os Ministros a se reunirem, até alta noite, na Secretaria da Guerra. Não deu, porém, maior importância à notícia.
Estavam, assim, todos tranquilos naquela casa quando apareceu, por volta das dez horas, o Alferes Ismael Falcão, com a notícia de que as tropas estavam reunidas em frente
do Quartel-General, com o Marechal Deodoro e Quintino Bocaiúva. "Neste caso, disse o Conde d'Eu - acabou se a Monarquia no Brasil"
Mal se tinham vindo a si os donos da casa diante de tais notícias, quando começaram a aparecer, sucessivamente, outros amigos, entre eles o Engenheiro André Rebouças "que me abraça, segundo o seu costume nas ocasiões solenes" - dirá o Conde d'Eu, com o plano que ele combinara com o Visconde de Taunay, de o Imperador ficar em Petrópolis, cercar-se ali de personagens importantes e organizar um Governo para enfrentar a insurreição militar.
O plano também foi apresentado à própria Princesa Isabel, que lamentaria mais tarde, depois de tudo perdido, não ter sido adotado. Além de apresentar um plano concreto de resistência a Deodoro da Fonseca, Rebouças propôs a Princesa Isabel e a Ramiz Galvão, professor dos Príncipes Pedro, Antonio e Luis, deixarem a proteção dos herdeiros da Casa de Orleans e Bragança sob seus cuidados. E sugeriu levá-los ao bordo couraçado Riachuelo e depois a Cidade de Petrópolis onde ficariam a salvo do caos do momento.
A intenção de Rebouças, que o Conde d'Eu demorou a compreender, era acompanhar e zelar pelos pequenos Príncipes Imperiais, aos quais se mostrara sempre muito afeiçoado, substituindo, de um certo modo, o Barão de Ramiz Galvão, que por motivos particulares não os podia acompanhar à Europa. Rebouças desceu de Petrópolis com os príncipes na madrugada de 17 de novembro, já decidido a compartilhar da sorte dos mesmos na Europa. Decidido "a partir para a Europa, - diz rebouças em seu Diário, -"com a Família Imperial, em lugar do Dr, Ramiz Galvão, Impossibilitado de partir pela numerosa família".
O já deposto Imperador e a princesa Isabel, tentaram convencer Rebouças a ficar no Brasil, onde seus conhecimentos seriam de bom proveito a nação, porém o engenheiro e empresário baiano já havia decidido que não iria participar de um governo que considerava ilegítimo, que jamais aceitaria seus planos econômicos de reforma agrária. Se já não podia restaurar o Império, Reboucas pelo menos poderia ajudar o amigo deposto de seu cargo de chefe de estado. Rebouças serviu de professor aos netos do Imperador até a morte do Monarca Brasileiro em 1891."
Fonte: História da queda do Império.
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