Este é o corpo encontrado praticamente intacto de John Hartnell, um dos membros da expedição Franklin, que teve toda sua tripulação desaparecida durante uma viagem pelo arquipelago artico canadense, em Julho de 1845. Passaria mais de 130 anos até que encontrassem evidencias da tripulação, que mostraram sinais de desnutrição, envenenamento e canibalismo.
Em maio de 1845, 134 homens embarcaram em uma busca para encontrar a evasiva Passagem do Noroeste, uma rota comercial lucrativa que encurtaria o caminho entre a Europa e a Asia, ligando o Atlântico ao Pacífico, passando pelo circulo polar artico.
A expedição Birtanica chamada de Expedição Franklin, foi considerada uma das missões mais bem preparadas da época. O capitão Sir John Franklin havia feito várias viagens ao Ártico e os seus navios, o HMS Terror e o HMS Erebus, foram especialmente equipados com motores a vapor e cascos com placas de ferro para resistir ao intenso gelo ártico. Os dois navios também foram abastecidos com alimentos para três anos, incluindo 14 toneladas de carne em conserva, 0,5 tonelada de passas e 580 galões de picles. A tripulação também teria uma biblioteca à disposição.
Era final de julho de 1845 quando o Erebus e o Terror cruzaram da Groenlândia para a Ilha de Baffin, no Canadá e dois navios baleeiros os viram operacionais pela última vez. Levaria mais três anos até que os britânicos notassem o desaparecimento da tripulação e enviassem grupos de busca. Apenas em 1850, foi documentado o descobrimento das primeiras evidencias da expedição em um trecho desabitado do percurso, na ilha de Beechey. Foram encontrados resquícios de um acampamento primitivo e três túmulos datados de 1846, sem identificações.
Quatro anos depois, o explorador escocês John Rae avistou um grupo de inuítes (Os Inuítes são grupos indígenas que vivem nas regiões árticas como do Canada, Groelandia e Alasca) em Pelly Bay, no Canadá, que estavam de posse de alguns pertences dos marinheiros desaparecidos. Os inuítes então apontaram para uma pilha de restos mortais. Rae observou que alguns dos ossos estavam quebrados ao meio e continham marcas de faca, o que sugeria que os marinheiros famintos recorreram ao canibalismo. Ele acrescentou em suas anotações que os ossos provavelmente também foram fervidos para que a medula pudesse ser sugada.
Em 1859, uma nota foi descoberta por um grupo de resgate em Victory Point, numa ilha chamada Ilha do Rei Guilherme. A carta, datada de 25 de abril de 1848, revelava que os dois navios na época haviam sido abandonados, a essa altura, o capitão Franklin e outros homens já haviam morrido. Ainda havia a informação que os 15 homens e 90 oficiais que permaneceram vivos caminhariam até um rio no dia seguinte.
Apenas em 1981, após mais de130 anos do desaparecimento, o antropólogo forense Owen Beattie fundou o Projeto de Antropologia Forense da Expedição Franklin (FEFAP). E em 1984, os três túmulos foram novamente localizados, mas dessa vez, os corpos foram retirados das covas e identificados como os marinheiros John Hartnell, John Torrington e William Braine. Na autopsia apresentaram, de forma geral, sinais de desnutrição, níveis mortais de chumbo e pneumonia, o que os estudiosos acreditam que afligiu a maioria, senão todos os homens. O envenenamento por chumbo foi teorizado a partir dos alimentos mal enlatados. Provavelmente, o responsável por estanhar todas as latas de comida fez isso de forma incorreta, fazendo com que o chumbo contaminasse o alimento envenenando a tripulação. Os corpos também sofriam de deficiências extremas de vitamina C, o que poderia levar ao escorbuto. A equipe de Beattie descobriu os restos mortais de mais seis a quatorze pessoas na Ilha do rei Guilherme.
Enquanto aos navios, apenas em 2014, foi encontrado o navio Erebus naufragado próximo a ilha do rei Guilherme. O Terror foi localizado em 2016 ao sudoeste da ilha do rei Guilherme, 92km distante do ponto de onde foi reportado seu abandono. Nenhum dos barcos aparentou ter danos, os dois cascos estavam intactos. Como os navios se separaram e depois afundaram permanece um mistério.
As hipóteses são que, sem nenhuma maneira de atravessar o gelo, toda a tripulação foi forçada a abandonar os navios, que mesmo intactos, eram totalmente inúteis no terreno intransponível. Com nada além de um deserto desolado para percorrer, todos morreram nos meses seguintes.
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