O Continente abre esta quarta-feira, 26 de maio de 2021, a primeira loja sem caixas de pagamento em Portugal, junto ao Jardim do Arco do Cego, em Lisboa. Os clientes só têm de entrar, tirar os produtos que precisam das prateleiras e sair – não há filas, cestos ou carrinhos, e também não é preciso abrir a carteira. E tudo graças à tecnologia: centenas de câmaras e sensores controlam as compras de cada cliente, sendo o pagamento feito automaticamente à saída, através do cartão bancário associado à nova aplicação Continente Labs (que é preciso descarregar para poder entrar).
"Somos a primeira marca europeia a abrir uma loja sem caixas", disse à Lusa o diretor de inovação e transformação digital, Frederico Santos, salientando que apenas a norte-americana Amazon tem um conjunto de lojas nos Estados Unidos e no Reino Unido a funcionar com um conceito semelhante, tal como o idealista/news já noticiou. Trata-se de "uma loja onde queremos permanentemente estar a introduzir experiências, tecnologias, gamas de produtos", afirmou o responsável. O investimento total, com obra, equipamentos e tecnologia, "ultrapassou um pouco um milhão de euros".
Como é que funciona esta loja sem caixas? E o pagamento?
A loja, com uma área de venda de 150 metros quadrados (m2), tem 20 quilómetros de cabos de rede instalados e está equipada com cerca de 230 câmaras no teto e mais de 400 sensores de prateleira, que associam os produtos recolhidos (e devolvidos) das prateleiras por cada cliente, criando carrinhos de compras virtuais, sendo o pagamento processo automaticamente através do cartão associado.
Para fazer compras nesta nova loja, é preciso descarregar uma aplicação – Continente Labs – no 'smartphone' e ter um cartão de débito ou de crédito associado e os dados de faturação para emitir a fatura eletrónica.
"Existe uma aplicação, que é o Continente Labs, que suporta na aplicação do cartão Continente, que já quase um milhão e meio de clientes têm e que, numa aplicação ou noutra, é possível configurar" para fazer um pagamento, explicou o responsável.
Depois de tudo configurado, basta abrir a aplicação Continente Labs, a qual exibirá um código (QR Code). Este código é lido à entrada, na zona do torniquete, que após a leitura do mesmo abre e o cliente só tem de guardar o telemóvel e não se preocupar com mais nada, a não ser com as compras.
Ao iniciar as compras com o retirar dos artigos das prateleiras, em tempo real começa a ser construído o seu carrinho virtual, através da tecnologia de inteligência artificial da Sensei, 'startup' portuguesa e parceira deste projeto. A tecnologia 'machine vision' acompanha a posição do cliente ao longo da loja, sem utilizar reconhecimento facial, garantiu Frederico Santos, que explicou que os sensores conseguem perceber qual o artigo tirado da prateleira, se foi devolvido ou pousado numa zona diferente.
Por baixo da loja está um 'data center' (centro de dados) potente que "está permanentemente a processar informação", disse. Depois das compras feitas, basta ao cliente sair da loja, sem ter de apresentar mais nada, e "ir para casa". Entretanto, a Sensei envia o carrinho de compras virtual para o Continente, que processa a faturação e emite a fatura eletrónica.
E se houver um problema com os artigos? Como se reclama?
Mas e se houver algum problema com os artigos? Não há problema, porque a aplicação tem uma funcionalidade que permite reclamar.
"Guardamos as imagens de interação durante o período de devolução normal de 15 dias, até porque somos obrigados pelo próprio RGPD [regulamento sobre proteção de dados]", que prevê que haja uma pessoa a avaliar aquilo que aconteceu no caso do cliente fazer uma reclamação.
A funcionar, numa fase inicial, entre as 12h00 e as 21h00, seis dias por semana, a Continente Labs vai contar com seis pessoas na loja: é preciso alguém para receber a mercadoria, colocar nas prateleiras, repor o 'stock' e garantir a higiene e segurança na operação, entre outros.
Por exemplo, se um cliente pretender comprar álcool, como a prateleira está fechada, terá de recorrer a um dos colaboradores da loja para aceder ao produto. Caso um cliente deixe um artigo na prateleira errada, os colaboradores recebem essa indicação na aplicação.
Confidencialidade garantida
Em termos de proteção de dados, a "confidencialidade do cliente é garantida". A Sonae MC com o Continente e a Sensei, enquanto operador de tecnologia, têm "contratos muito claros entre as duas entidades em que clarificam a forma como são tratados os dados de cliente e foi uma preocupação desde o início do projeto desenvolver uma solução para que potencie a confidencialidade dos clientes", disse ainda o responsável.
Quando o cliente entra, é criado um número aleatório, que a título de exemplo vamos identificar como 425. O Continente informa à Sensei que o cliente 425 entrou e esta é a única informação que a tecnológica obtém. Quando o cliente faz as compras e sai, a Sensei informa a retalhista de que o 425 saiu e qual é seu carrinho virtual (artigos que comprou).
"Esta separação completa permite que nenhum de nós tenha informação sobre o cliente que não é suposto ter, a própria Sensei não guarda nenhuma imagem do que o cliente faz na loja se não estiver a interagir com produtos, só guarda imagens quando o cliente interage com a prateleira", asseverou Frederico Santos.
fonte https://www.publico.pt/