D. João de Castro



D. João de Castro nasceu em Lisboa há 522 anos, a 27 de fevereiro de 1500, filho de D. Álvaro de Castro, vedor da fazenda do rei D. João e de D. Manuel, e de D. Leonor de Noronha.
Dotado de uma educação de elevada qualidade, seria aluno do matemático Pedro Nunes. Desde cedo muito afeiçoado às armas, embarcaria aos dezoito anos para Tânger, onde serviria durante nove anos, durante o governo de D. Duarte de Meneses, que o armaria cavaleiro e escreveria ao Rei D. João III, dando conta das grandes qualidades de Castro. 
Retornado a Portugal, casaria com D. Leonor Coutinho, mas em 1535 romaria a Túnis, acompanhando o infante D. Luís, sendo também aí reconhecido pela sua grande capacidade.
De novo em Lisboa, D. João de Castro seria recebido pelo Rei D. João III, que a 31 de janeiro de 1538 lhe concederia a comenda de S. Paulo de Salvaterra na Ordem de Cristo.
No mesmo ano, D. Garcia de Noronha seria nomeado Vice-rei da Índia e D. João de Castro acompanhá-lo-ia, embarcando com o seu filho D. Álvaro de Castro, de apenas treze anos.
D. Garcia de Noronha viria a falecer em 1540, sendo sucedido no Governo por D. Estêvão da Gama, que D. João de Castro acompanharia na expedição ao Mar Roxo. Castro capitaneava um galeão, dentro de uma armada de doze navios de alto bordo e sessenta embarcações de remo, e faria um roteiro minucioso da viagem até Suez, que ofereceria ao Infante D. Luís. 
D. João de Castro regressaria a Portugal, tendo sido nomeado General da Armada da Costa em 1543, como reconhecimento pelos seus serviços. No exercício deste cargo, partiria para o mar para proteger as naus que retornavam da Índia dos ataques de corsários, sendo capaz de repelir sete navios inimigos, sendo recebido em Lisboa com grande entusiasmo.
D. João III, aconselhado pelo seu irmão D. Luís, nomearia D. João de Castro Governador da Índia, em substituição de Martim Afonso de Sousa, a 28 de fevereiro de 1545.
D. João de Castro partiria então para Índia com seis naus, levando consigo os seus filhos D. Álvaro e D. Fernando, tendo chegado a Goa em setembro. Logo teria de pegar em armas contra Hidalcão, Sultão de Bijapur por este se recusar a entregar um prisioneiro, como o seu antecessor prometera fazer, sucedendo nesta expedição, a duas léguas de Goa.
Em 1546, travar-se-ia uma intensa luta pela posse de Diu, com o Sultanato Guzarate, cujas tropas comandadas por Safar Aga seriam capazes de derrotar os portugueses. D. João de Castro, inconformado com este desfecho, enviaria reforços para a cidade, comandando pessoalmente uma nova expedição de resgate. Desta feita as forças portuguesas sairiam vitoriosas, obrigando os invasores a retirar.
Para reedificar a fortaleza de Diu, que ficara destruída, D. João de Castro escreveria aos vereadores da câmara de Goa com o fim de obter um empréstimo para as obras de reedificação, a 23 de novembro de 1546. Nesta carta, que se tornaria célebre, D. João de Castro afirma que mandara desenterrar o seu filho D. Fernando, que fora morto na batalha, para poder empenhar os seus ossos, mas que o cadáver estava de tal maneira destruído que tal não fora possível, pelo que o único penhor que lhe restava eram as suas próprias barbas. Esta demonstração de honra e caráter de um homem que pouco de material possuía, bem como os feitos que realizara, emocionou o povo de Goa, que enviou uma quantia muito superior à pedida, referindo em carta datada de 27 de dezembro de 1547 que Goa e o seu povo emprestavam da sua boa e livre vontade, como leais vassalos do rei. 
D. João III quis recompensá-lo, alterando o seu título para Vice-rei, prolongando-lhe o Governo por mais três anos, enviando-lhe como ajuda financeira dez mil cruzados e concedendo ao seu filho D. Álvaro o cargo de Capitão-mor do Mar da Índia. Infelizmente, a notícia destas honras e mercês já não chegaria a tempo de que D. João de Castro as pudesse gozar.
D. João de Castro viria a adoecer gravemente, tendo convocado com urgência várias figuras de relevo, entre as quais o Bispo D. João de Albuquerque, o Vigário-Geral da Índia, S. Francisco Xavier e os oficiais da Fazenda do rei. De acordo com o que se encontra registado, ter-lhes-á dirigido as seguintes palavras: 
"Não terei, senhores, pejo de vos dizer, que ao vice-rei da Índia faltam nesta doença as comodidades que acha nos hospitais o mais pobre soldado. Vim a servir, não vim a comerciar ao Oriente; a vós mesmo quis empenhar os ossos de meu filho, e empenhei os cabelos da barba, porque para vos assegurar, não tinha outras tapeçarias nem baixelas. Hoje não houve nesta casa dinheiro, com que se me comprasse uma galinha; porque nas armadas que fiz, primeiro comiam os soldados os salários do governador, que os soldos de seu rei; e não é de espantar; que esteja pobre um pai de tantos filhos. Peço-vos, que enquanto durar esta doença me ordeneis da fazenda real uma honesta despesa, e pessoa por vós determinada, que com modesta taxa me alimente".
D. João de Castro viria a falecer a 6 de junho de 1548, tendo os seus restos mortais sido transladados em 1576 para o convento de S. Domingos de Lisboa e posteriormente para a capela particular dos Castros.

Miguel Louro
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