A evolução urbana de Ouro Preto (Antiga Vila Rica), a primeira capital de Minas Gerais começa nos três primeiros quartos do século XVIII e apresentou cerca de 30 mil habitantes trabalhando nas minas.
No final do Setecentos, a cidade sofreu uma retração econômica e populacional em função do esgotamento das jazidas de ouro.
Ao longo do século XIX, Ouro Preto manteve-se relativamente dinâmica: cresceu e modernizou-se. Acreditamos que a origem da decadência atribuída para Ouro Preto no Oitocentos esteja nos relatos dos viajantes estrangeiros que interpretaram de forma equivocada a cidade que visitaram antes das novidades que a ferrovia trouxe. Com a transferência da capital do Estado, no final do Oitocentos, a estagnação econômica atingiu Ouro Preto e a cidade sentiu, enfim, o efeito do abandono.
A cidade de Ouro Preto no oitocentos manteve sua posição de capital da província até 1897 e essa função sustentou comércio, prestação de serviços e atividades culturais. Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por dom Pedro I, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto.
A partir do segundo quartel do século XIX, Ouro Preto passou a ser referência na área educacional com a criação da Escola de Farmácia e Bioquímica, em 1839, e da Escola de Minas e Metalurgia, em 1876. A Capital de Minas Gerais recebeu a Visita do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Dona Teresa Cristina. Em Ouro Preto , foi aberta a concorrência para a iluminação elétrica , em 1882.
Em janeiro de 1888, houve a inauguração do ramal férreo. Paralelamente, a extração mineral não cessou por completo, embora tenha decaído muito: ainda no início do século XIX, o barão de Eschwege foi enviado a Ouro Preto para trabalhar com a mineração de ouro.
Dessa forma, notamos uma retração populacional expressiva no fim do século XVIII e a partir do primeiro quartel do século XX, mas, ao longo do século XIX, o crescimento vegetativo da população livre foi positivo. Ao longo do século XIX, Ouro Preto sofreu um processo de renovação e adensamento urbanos na região central, reforma de fachadas e inserção de novas edificações que incorporou os novos materiais disponíveis, novas técnicas construtivas e estilos vigentes e nova implantação.
A transferência da capital do Estado para a cidade de Belo Horizonte, inaugurada em 1897, levou Ouro Preto a uma fase de abandono, sentida, sobretudo, a partir do segundo quartel do século XX. No final do século XIX, houve a intenção de grandes reformas urbanísticas na cidade com o objetivo de evitar a transferência da capital; no entanto, esses projetos não foram executados.
Considerando a necessidade de salvaguardar a arquitetura, o urbanismo e a paisagem de Ouro Preto, vislumbramos políticas de preser-vação para a cidade que contemplem também a valorização do Oitocentos. Os critérios e normas aplicados, nas primeiras décadas de atuação do Iphan, elegeram elementos tipológicos de uma fase de Ouro Preto para serem eternizados, alterando as edificações primitivas e influenciando a nova arquitetura e o novo desenho urbano. Aspectos da arquitetura e do urbanismo do século XIX foram banidos.
Paralelamente, a decadência atribuída à cidade no século XIX casou perfei-tamente com a adoção sistemática do colonial como modelo. As práticas de gestão da cidade devem possibilitar tanto a leitura histórica do sítio urbano quanto à preservação dos elementos que faziam parte do núcleo antigo, à época do tombamento: e isso inclui a dinâmica do século XIX. Fonte: Ouro Preto e o século XIX: o mito da decadência.
Liliane de Castro Vieira
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Diamantina, Minas Gerais, Brasil
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