O Brigadeiro José da Silva Pais (1679-1760) foi um militar, engenheiro e administrador português, tendo destaque por ser um grande estrategista e especialista na construção de fortes.
É considerado o fundador do Rio Grande do Sul. Não apenas idealizou, mas também participou diretamente da administração pública que estruturou a concepção do Brasil Meridional lusitano. Foi responsável pela construção de fortificações, desempenhando as construções de diretrizes geopolíticas para garantir a presença portuguesa no Prata, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Silva Paes nasceu na freguesia de Nossa Senhora das Mercês, em Lisboa, sendo batizado no dia 25 de outubro de 1679, não há uma concepção do dia exato de seu nascimento. Era filho de Roque Gomes Paes e Clara Maria da Silva. Casou-se em Lisboa no dia 8 de maio de 1704 com Máxima Teresa da Silva ou de Brito. Aos 22 anos iniciou sua vida militar em Lisboa, passando no mesmo ano à província do Alentejo, na Praça de Olivença, nas funções de ajudante-engenheiro.
Em 1703, atuou em Abrantes para determinar o local conveniente para construir-se uma ponte ligando a província da Beira ao Alentejo. Em 1705, foi-lhe outorgado o título de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real. Neste mesmo ano, é admitido na Ordem de São Tiago, da qual é transferido por Alvará de 12 de janeiro de 1716 para a Ordem de Cristo. Em 1712, junto com o Marquês Bay participou do sítio da Praça de Campo Maior. No ano seguinte é nomeado Coronel de Engenheiros, sendo investido em emprego judicial em Lisboa em 1719, e passando em 1720 a desempenhar, por designação Real, serviços nos Açores. De 1723 a 1730, passou a Coronel de Infantaria com exercício de Engenheiro-Agregado e depois continuou no mesmo posto no regimento da Armada Real até 1735. Foi designado em 1728 para administrar os bens vinculados à Capela de Monte Argil. Nos anos de 1729 a 1733 foi encarregado da implantação de obras de engenharia em Lisboa.
Aos 56 anos, embarca para o Brasil como Brigadeiro. No Rio de Janeiro foi designado para projetar e construir as fortificações da cidade e na Barra de Santos. Realizou várias obras públicas na capital da colônia, destacando-se o novo edifício da Alfândega.
Dois anos após desembarcar no Brasil, comandou as expedições ao Rio da Prata com cerca de 1100 soldados. Seu objetivo era expulsar os espanhóis de Montevidéu, socorrer a Colônia do Sacramento que estava sitiada e ocupar a barra do Rio Grande de São Pedro. Para isso contava com a ajuda do coronel Cristovão Pereira de Abreu a frente de 160 homens experientes em montaria, sendo o responsável por preparar o terreno para desembarcar em Rio Grande. O resultado das ações da esquadra no Prata não foram tão positivos,pois foram rechaçados de Montevidéu e os soldados não tiveram muito o que fazer em Sacramento, onde se vivia uma expectativa de paz entre Espanha e Portugal. Silva Paes, parte então com apenas 250 homens em cinco barcos para fortificar o canal que liga a Lagoa dos Patos ao Atlântico. Ter o controle estratégico do canal era primordial, devido ser a única entrada para navios, desde Tramandaí até o Prata. Ao se dirigir para a barra, Silva Paes espera 10 dias para desembarcar, após isso avança até a Serra de São Miguel onde construiu e projetou o Forte Jesus, Maria, José. Com isso distribuiu as primeiras sesmarias, fundando assim a cidade de Rio Grande em 1737.
É considerado o primeiro povoado do futuro estado do Rio Grande do Sul, que fora projetado para estabelecer as fortificações básicas para defender as novas áreas incorporadas a Portugal. O objetivo era marcar a presença portuguesa no sul da colônia. Aquela área era objeto de incursões espanholas comandadas por Dom Pedro de Ceballos, que por duas vezes a tomou. Desenvolveu neste tempo contínuas atividades em apoio à cartografia e criou o núcleo inicial do Regimento dos Dragões do Rio Grande de São Pedro.
Manuel José Gomes de Freitas, político e historiador enaltece Silva Paes: "E a 19 de fevereiro de 1737, o Brigadeiro Silva Paes descia a terra, com um contingente de 254 arcabuzeiros e dragões, dando nascimento ao quartel e vila de Rio Grande – núcleo inicial da Capitania Real de São Pedro do Rio Grande do Sul”.
Silva Paes após sair do Rio Grande foi nomeado primeiro governador da recém-criada capitania de Santa Catarina, cargo que ocupou por 10 anos (1739 a 1749). Neste tempo, urbanizou a capital da província e projetou a nova igreja, obra essa que foi executada pelo seus sucessores que se tornaria a Catedral Metropolitana de Florianópolis.
Projetou e construiu as fortalezas que constituíram o principal sistema de defesa da ilha de Santa Catarina:
Ao norte: Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Ratones;
Ao sul: Conceição de Araçatuba.
Criou o Batalhão de Infantaria de Linha da Ilha, mais tarde batizado de Barriga-verde.
Retornou ao Rio de Janeiro em 1743, e no mesmo ano Paes partiu para o litoral gaúcho, onde construiu fortificações para defender o novo território e incorporá-lo a Portugal.
Reassumiu o governo da capitania de Santa Catarina, de 1746 a 1749. Neste período, idealizou e administrou a vinda dos açorianos para colonizar o litoral catarinense, visto que nas ilhas dos Açores havia o problema da explosão populacional.
Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri, onde a Espanha reconhece pelo princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), as posses portuguesas (da qual Silva Pais teve participação direta) no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a oeste do Tratado de Tordesilhas.
Retornou para Portugal em fevereiro de 1749, onde ainda exerceu funções públicas e privadas, vindo a falecer em 14 de novembro de 1760, aos 81 anos, deixando testamento em que estabelece o destino de seus bens e num anexo arrola o acervo de sua biblioteca, da qual existe na Biblioteca Rio-Grandense, em local separado e em destaque, um bom número das obras ali relacionadas. Da análise dos títulos constantes da biblioteca de Silva Pais verifica-se, nos mais de 200 títulos, que além de obras de Engenharia Militar e Estratégia existem muitos livros de Biografias, História e Filosofia, denotando as preocupações intelectuais daquele homem invulgar e com características de um “iluminista”, que sem saber escreveu seu próprio livro na história do estado e do país. Fonte:
- Borges Fortes (gen) - O Brigadeiro Silva Paes e a fundação de Rio Grande. Separata RIHGSR. Porto Alegre, 1933.
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