O açoriano Christiano Junior (1832 – 1902) foi um dos maiores e mais versáteis fotógrafos dos oitocentos, além de empresário atuante em diversos ramos. Chegou ao Brasil, em 1855, com sua esposa, Maria Jacinta Fraga, e com os dois filhos do casal: os futuros fotógrafos José Virgílio e Frederico Augusto. Na década de 1860, quando a fotografia se popularizou no país e passou a ser comercializada em ateliês, Christiano dedicou-se aos retratos de estúdio e tornou-se famoso por seus registros de tipos negros, tendo realizado imagens exclusivamente de escravizados, vendidas, em geral, no formato de cartes de visite. Eram geralmente vendidas para estrangeiros que voltavam à Europa.
Christiano Junior trouxe os escravizados para dentro do estúdio e em seus registros há closes e retratos deles em uma situação de simulação de suas atividades profissionais mostrando, sobretudo, carregadores e os chamados negros de ganho, que trabalhavam como vendedores nas ruas da cidade e entregavam o lucro para seus proprietários. Os escravizados eram identificados como tipos negros e eram fotografados normalmente de frente ou de perfil e enquadrados no centro, deixando bem evidentes suas características físicas, suas vestimentas e instrumentos de trabalho. Às vêzes, Christiano os retratava diante de fundos pintados com paisagens europeias. Em 1866 o Almanaque
Laemmert anuncia a venda de uma “Variada colleção de (...) typos de pretos, cousa muito
própria para quem se retira para a Europa”. Tal trabalho indica que Christiano tem uma
forte curiosidade “antropológica”. Ao registrar os escravos “de ganho”, ele os coloca no
cerne da modernidade, socializando a imagem das próprias contradições do país
Pouco depois de fazer tais registros, por recomendação médica, em 1866, Christiano Jr. deixa o Rio de Janeiro, seguindo rumo ao Sul; fixou-se por pouco tempo em Santa Catarina, na cidade de Desterro e em Mercedes, no Uruguai.
Na capital da Argentina o fotógrafo inicia uma maciça produção de retratos. Estima-se que foram produzidos por ele mais de 4.000 retratos, entre 1873 e 1875.
Christiano Júnior vem a falecer, aos 70 anos de idade, no dia 19 de novembro de 1902, em Assunção, Paraguai. A revista portenha Caras y Caretas publica uma nota, na qual informa que ele passou seus últimos tempos pintando fotografias.
Quando faleceu, esse homem que a tantos emprestou seus olhos estava praticamente sem nenhuma visão.
As imagens deixadas no Brasil por Christiano Júnior testemunham a peculiaridade de seu modo de ver e, sem dúvida, constituem-se na referência incontornável para a reflexão a respeito da história social do nosso país.
Grande parte da obra de Christiano Junior está sob a guarda da Biblioteca Nacional, do Museu Histórico Nacional, do Arquivo Nacional, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e do Instituto Moreira Salles.
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