Elias de Figueiredo Nazareth (1855-1922) foi um pedagogo, professor e abolicionista Baiano.


"Nascido na Capital da província da Bahia, suas origens familiares são desconhecidas, sendo provável que tenha nascido livre e que sua família ou algum padrinho tivesse recursos para sustentar seus estudos, porque o ensino secundário não era um nível de ensino amplamente disponível para as classes sociais mais pobres em Salvador na segunda metade do século XIX.

As fontes sobre Nazareth relatam apenas informações sobre a sua experiência como 
educador, e é sobre este consistente conjunto de informações que trataremos neste texto. 

Em fevereiro de 1871, Elias de Figueiredo Nazareth recebia o seu diploma de aluno-mestre, termo de época que significava a habilitação do profissional de educação para a ministração de aulas. Ao longo de toda a sua vida profissional, Elias trabalhou como professor na Escola Normal, uma instituição escolar pública que ofertava o ensino secundário na cidade. 

A escola admitia ambos os sexos, mas as salas de aulas eram separadas, existia espaços anexos 
para homens e mulheres. Nesta instituição, Elias Nazareth lecionava as disciplinas métodos 
teóricos e práticos, desenho linear e português. A trajetória de vida deste profissional foi 
fortemente marcada pelo trabalho desenvolvido dentro da Escola Normal de homens.

Professor atuante no sentido de discutir os problemas e soluções para o ensino público na cidade, Elias Nazareth estivera na Primeira Conferência Pedagógica realizada em Salvador em dezembro de 1875. O evento aconteceu no Liceu Provincial e contou com as participações do então Diretor Geral da Instrução Pública da Província, José Eduardo Freire de Carvalho, dos membros do Conselho Superior de Instrução, e muitos outros professores públicos da Bahia. Neste evento, Elias Nazareth foi nomeado secretário do Conselho Superior de Instrução, era a sua primeira honraria, mas viriam outras ao longo de sua vida profissional.

Ainda na década de 1870, Elias recebeu diversas menções honrosas por parte das autoridades públicas na área de educação em função do trabalho que o professor desenvolvia em sala de aula. Em geral, se destacava nos Relatórios dos Trabalhos do Conselho Interino do Governo da Bahia, elogios ao aprendizado adquirido pelos estudantes do professor Nazareth e a “ordem e o zelo que se notava em suas escolas”.

Preocupado com os métodos de ensino na cidade, em 1875, Elias escreveu um Compêndio de Desenho Linear. O compêndio é um livro que reuni informações relativas a uma área específica de saber.

José Joaquim argumentou ainda que faltava um material didático desta natureza na província, neste sentido, pontuou que: “o compêndio do professor Nazareth preenche bem esta lacuna, que coligi da leitura que dele fiz”.

Este compêndio de desenho linear foi lido por outro importante professor e personagem na história da Bahia, Manuel Raimundo Querino (1851-1923). Em 1923, o artigo de Querino: "Os homens de cor preta na história" foi publicado na revista do Instituto 
Geográfico e Histórico da Bahia. Neste artigo, ele fez um estudo sobre a biografia de 38 homens negros que, na sua concepção, tiveram uma importância significativa para a história da Bahia e do Brasil. Ao destacar o professor Elias Nazareth, Querino revelou algumas informações até então desconhecidas pelo autor deste artigo, como por exemplo, algumas notas que Nazareth escreveu sobre a história do Liceu Provincial, que na Primeira República passou a denominar-se Ginásio da Bahia, e a informação de que o professor 
Nazareth foi comissionado pelo ministério do império para estudar os progressos do ensino primário nas Repúblicas do Prata.

Em novembro de 1879, Elias Nazareth elaborou uma cartilha de ABC, inspirada na obra do professor português João de Deus.  A partir da década de 1870, ocorreu na província da Bahia um progressivo aumento de escolas noturnas para 
trabalhadores, em sua maioria, escolas para as pessoas negras livres e libertas.

Parte da imprensa e alguns intelectuais na província acompanhavam o trabalho 
que era realizado na área da educação pública, sobretudo, no nível da escolarização 
primária que era obrigatória. Nesse sentido, a cartilha do ABC escrita pelo professor 
Nazareth era motivo de interesse por parte de algumas pessoas letradas que defendiam a 
importância de novas ferramentas de ensino para o aprendizado das primeiras letras em um 
país que, segundo o censo de 1872, chegava a 80% da população analfabeta.

Abolicionista de destaque no cenário baiano, durante seu exercício no magistério, também ministrava aulas no curso noturno para pobres e adultos que não puderam estudar nas escolas primárias em sua fase de idade escolar. Em 1880 foi criada por Elias uma escola noturna em Salvador para instrução de libertos, ingênuos, ex – escravos e escravos.

 Já em 1882, o próprio professor Nazareth junto com uma comissão de outros professores, elaboraram um abaixo assinado endereçado ao presidente da província, o objetivo foi cobrar do poder público novas mobílias escolares para as escolas públicas primárias da província, assinaram o abaixo assinado: o Diretor Geral da Instrução Pública da Bahia, José Joaquim de Palma, o professor Antônio Bahia da Silva Araújo, Antônio 
Pacifico Pereira, professor da Faculdade de Medicina, e Francisco dos Santos Pereira.

Não sabemos se as reivindicações dos professores foram atendidas, mas consideramos 
importante destacar a agência política do professor Nazareth no sentido de se mobilizar 
coletivamente em função de uma melhor estrutura das escolas públicas.

Foi uma trajetória bastante intensa que o professor Elias Nazareth viveu na Escola Normal de Homens nos últimos anos do império. E este empenho continuou nas primeiras décadas do século XX. Em 1891, ele também trabalhava como professor no Colégio S. Luiz Gonzaga que ficava localizada no Largo do Pelourinho e funcionava no sistema de internato e externato, sob a direção do conêgo João Nepomuceno de Souza. Elias lecionava a disciplina português.

Depois de 40 anos de pratica em sala de aula, sua gestão à frente desta instituição de ensino era bastante elogiada pelas autoridades públicas e pelos jornais de Salvador. O governador da Bahia Antônio Muniz Sodré Aragão (1881-1940), em mensagem a assembleia 
do estado reconheceu o trabalho que vinha sendo desenvolvido pelo professor e escreveu: 

"A Escola Normal, execelentemente instalada em edifício adequado, sob a competente direção de um dedicado diretor, professor Elias de Figueiredo 
Nazareth, e servida por ilustre corpo docente, precisa apenas do ponto de vista material de poucos melhoramentos."

Os elogios ao profissionalismo do professor Elias de fato se justificavam, ele trabalhava com dedicação pela escolarização no estado. Em 1911, Nazareth participou do Congresso de Geografia realizado em São Paulo. Neste congresso, ele representou a Bahia com duas monografias destacando as características geográficas do estado. Como a Bahia ficou por um longo tempo sem representante no Congresso, a Revista do Brasil agradeceu a 
presença do professor exaltando suas qualidades intelectuais.

No dia 6 de novembro de 1922, o professor Elias Nazareth faleceu. O Conselho Superior de Ensino, do qual era membro, lhe prestou a seguinte homenagem: “O Conselho teve o pezar de ver desaparecer um de seus mais esforçados membros, cuja vida foi sempre dedicada ao magistério, prestando relevantes serviços por mais de quarenta anos”.

Foi de fato uma longa trajetória na área do magistério, desde o período imperial, Elias 
Nazareth se mobilizava individual e coletivamente na perspectiva de qualificar o ensino e a 
estrutura da educação pública na cidade em que vivia. A elaboração de um compêndio de 
desenho linear, de uma cartilha de ABC, visita as escolas em outros estados, participações 
em congressos, são ações que denotam a agência de um homem que esteve muito preocupado com a cidadania e escolarização dos baianos. Portanto, Elias de Figueiredo Nazareth é mais um personagem importante na historiografia da abolição do Brasil, na medida em que a sua rica trajetória nos informa sobre a agência de alguns 
educadores negros dentro e fora de sala de aula, militando contra um dos problemas centrais do país em fins do século XIX e começo do XX, o analfabetismo." Fonte: “O NOBRE EDUCADOR” DA BAHIA: TRABALHO, CIDADANIA E SOCIABILIDADES (1870-1922)
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