O ALAMBRADOR

No ano de 1980, meu pai sentou ao lado de um velho alambrador, sempre levava consigo um caderno para apontamentos.
 Manoel Pereira, um alambrador aposentado com 85 anos na época. 
Nos escritos segue um relato real entre 1925 até 1940 de Velho Manoel o alambrador:
“Sabe seu Osorio, naquele tempo os campos eram um só, não tinha cerca, os gaudérios campeiros, sem compromisso pegavam um cavalo em Uruguaiana e trotavam livres até Pelotas podendo escolher o rumo, por isso a gente era chamado gaúcho, porque naquela época um gaúcho era um ser descompromissado, peleador, andarilho cavaleiro que gostava de andar pelas campinas, subir cerros e descobrir de repente um horizonte sem fim, daqueles que desperta a vontade de andar em busca do que tem detrás de outra coxilha, entrar no capão de mato, fazer fogo na beira de um árvore, dormir no chão enrolado no poncho e olhar as estrelas deste céu imenso, enfrentar a chuva, frio e calor, mas escolher o rumo que o nariz apontar. 
Passar pelos banhados, atravessar as sangas, descobrir os passos do rio, como era lindo a província de São Pedro livre sem fronteiras.
Em 1927, com a valorização do gado, da carne e do couro, a Província de São Pedro deu um salto, então os estancieiros, que tinham os postos em suas fronteiras, onde eram contratados os posteiros, que nada mais era do que pequenas casas ou velhas fazendas abandonadas com arvoredos onde moravam esses guardas que guarneciam as divisas das sesmarias de grandes estancieiros, era complicado manter-se bem informado, os estancieiros se preocupavam. 
Pois surgiu uma nova profissão: 
O alambrador, no começo cercas com quatro fios, então os fazendeiros tiraram a liberdade primitiva retalhando e costurando o Rio Grande em invernadas, piquetes, currais, bretes tudo feito com cercas.  
Os campos fechados, o gado amansado tirou o primitivismo dos lugares e lá se foi a liberdade de ir e vir.
Fecharam-se os atalhos , surgiram então os corredores. 
Foi um golpe profundo ao gaúcho livre, uma tristeza ver meu Rio Grande todo dividido em mil pedaços, como um prato enorme que cai das mãos e se divide em pedacinhos. Eu não me queixei mesmo, pois nunca mais me faltou trabalho, eheheheheh.
Porém tudo tem dois lados, para equilibrar os pratos da justiça, os estancieiros apuraram o gado, criou-se raças, antes o gado se aliviava dos sangue sugas dos carrapatos, com o bico amarelo, anú, maria-preta que eram os passarinhos que sentavam em seus lombos para comerem os carrapatos, então criou-se os banheiros com veneno para matar a bicharada, dizem que botavam fogo no campo para matar as larvas de carrapatos que infestavam os campos. 
Acabou a evasão do gado, a mistura com de outros fazendeiros, isso deu muita briga e teve gente que morreu. 
Hoje os lindeiros viraram amigos, a cerca manteve a paz, surgiram a marca em brasa que evidenciava a propriedade e poucos casos apareceram de cerca cortada ou arrebentada..eheheheh.  
A indústria acabou com o gauchismo, o boi naquela época enriqueceu os estancieiros, foi época que fizeram estâncias de luxo, nunca mais isso aconteceu, eu criei meus filhos, fiz quilometros de cercas e comprei minha casinha e tenho orgulho de ser um alambrador”.
Fonte: Prof. Beraldo Figueiredo 
Pintura a óleo " O ALAMBRADOR " de Vasco 
Machado.
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