No último sábado, 13 de janeiro de 2024, o Brasil perdeu uma figura controversa e marcante: Edemar Cid Ferreira, um renomado economista e ex-banqueiro, fundador do Banco Santos em 1985. Aos 80 anos, Edemar faleceu em sua casa, vítima de uma parada cardíaca, deixando para trás uma história marcada por sucessos financeiros, escândalos e uma notável paixão pela arte.
A trajetória de Edemar Cid Ferreira ganhou destaque no cenário nacional quando, em 2004, o Banco Santos, instituição por ele fundada, foi intervencionado pelo Banco Central. O rombo de R$ 2,1 bilhões no caixa da companhia levou à liquidação do banco, tornando-se um dos episódios mais marcantes do setor financeiro brasileiro. Edemar foi preso duas vezes, enfrentando acusações de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
O ex-banqueiro sempre negou veementemente as acusações, declarando-se inocente. Ele alegava ser alvo de uma perseguição política, sustentando que a intervenção do Banco Central foi arbitrária e ilegal. A defesa de sua paixão pela arte também era uma constante em sua narrativa, considerando sua coleção como um patrimônio cultural do Brasil.
A queda do Banco Santos resultou na perda não apenas do império financeiro de Edemar, mas também de sua mansão extravagante localizada no Morumbi, em São Paulo. A propriedade, projetada pelo renomado arquiteto Ruy Ohtake, foi vendida em 2020 para o empresário Janguiê Diniz por R$ 27,5 milhões.
Nos últimos anos, Edemar Cid Ferreira viveu de forma mais discreta em um apartamento alugado em São Paulo, após ser despejado de sua antiga mansão. Ele relatou uma vida espartana, sem mais bens físicos em seu nome, dependendo da ajuda dos três filhos.
A trajetória judicial de Edemar incluiu prisões, anulações de sentenças e leilões. Em 2006, passou três meses detido no presídio de segurança máxima de Tremembé. Em 2015, a Justiça Federal anulou a fase de interrogatórios e a sentença por gestão fraudulenta no Banco Santos. O imbróglio judicial envolvendo sua mansão culminou em seu leilão em 2020 por uma fração mínima do valor inicialmente estipulado.
Além do cenário financeiro conturbado, Edemar Cid Ferreira era reconhecido por sua notável coleção de arte, considerada uma das maiores da América Latina. Obras de artistas renomados, como Tarsila do Amaral e Jean-Michel Basquiat, foram confiscadas e leiloadas para pagar credores da massa falida do Banco Santos. Mesmo após os escândalos financeiros, Edemar tentou intervir no destino de sua coleção, argumentando contra o desmembramento de séries fotográficas clássicas durante um leilão em setembro de 2020.
Assim, a morte de Edemar Cid Ferreira encerra um capítulo complexo da história financeira brasileira, marcado por êxitos, controvérsias e uma paixão inabalável pela arte. Sua trajetória de altos e baixos deixa um legado que será analisado e debatido por muitos anos, refletindo não apenas as complexidades do sistema financeiro, mas também a interseção entre riqueza, poder e cultura.