Cautela dos Espíritos Livres


Os homens de senso livre, dedicados exclusivamente ao conhecimento, logo alcançam o objetivo exterior de suas vidas: uma posição definitiva na sociedade e no Estado. Satisfeitos com um modesto emprego ou uma fortuna suficiente para viver, organizam-se de forma a resistir a grandes reviravoltas nas condições externas. Empregam o mínimo de energia para mergulhar profundamente no conhecimento, na esperança de enxergar o fundo.

Esse espírito cauteloso prefere apenas a borda das experiências, evitando se emaranhar nas complexidades. Conhece os dias de cativeiro, mas também reserva momentos de liberdade para suportar a vida. Seu amor pelos outros é igualmente cauteloso e breve, limitando-se ao necessário para seus fins intelectuais.

Vive e pensa com um heroísmo refinado, desdenhando a adoração das massas. Anda silenciosamente pelo mundo, enfrentando labirintos e rochas, até emergir à luz. Deixa que o brilho do sol brinque em seu fundo, sem alarde.

Nietzsche, em Humano, Demasiado Humano, nos convida a refletir sobre essa cautela dos espíritos livres, que buscam o conhecimento sem se perderem nas vicissitudes da vida comum. São como raios de sol que atravessam as nuvens, iluminando discretamente o mundo.


Postagem Anterior Próxima Postagem

Top Post Ad

نموذج الاتصال