LUTA LIVRE NA GRÉCIA ANTIGA: O Pankration


O boxe é um jogo muito antigo, provavelmente originário da Creta minóica e da Grécia micênica. 

Os pugilistas treinavam-se esmurrando e dando cabeçadas em sacos cheios de sementes de figo, farinha ou areia, pendentes de cordas. 

Na idade clássica da Grécia (isto é, nos séculos V e IV a.C.), os jogadores usavam “luvas acolchoadas”, feitas de couro de boi untado de gordura e que chegavam quase até aos cotovelos. 
Os golpes limitavam-se à cabeça, mas nada impedia de atacar o adversário caído. 

Não havia descansos, ou rounds; os pugilistas lutavam até que um dos dois se desse por vencido ou morresse. 

Não eram classificados pelo peso; homens de qualquer peso podiam classificar-se. Depois passou o peso a ser exigido e o boxe evoluiu de torneio de agilidade a competição de musculatura.

Com o decorrer do tempo, e o desenvolvimento da brutalidade, o boxe e a luta combinaram-se numa nova competição chamada pankration, ou luta livre, na qual tudo era permitido, até pontapés no estômago, exceto dentadas e arrancamento dos olhos. 

Três heróis, cujos nomes chegaram até nós, venceram nessa luta fraturando os dedos dos adversários; outro desferiu golpes tão ferozes com as afiadas unhas, que dilacerou as carnes do adversário e arrancou-lhe os intestinos. 

Milo de Crotona foi um pugilista mais delicado. Desenvolvera sua força, ao que se diz, carregando diariamente um novilho até que este se tornasse touro. 

O povo adorava seus truques; sabia segurar com tanta força na mão uma romã que ninguém conseguia arrancá-la, e a fruta não se machucava; de pé num disco untado de óleo, resistia a todos os esforços feitos para desalojá-lo; amarrava em redor da cabeça uma corda e arrebentava-a com prender a respiração e forçar o sangue a inflar as veias.

 Acabou destruído pelas próprias virtudes. “Pois encontrando, casualmente”, narra Pausânias, “uma árvore morta, cujo tronco alguém tentara abrir com auxílio de cunhas que ainda lá estavam, Milo cismou de abri-la com as mãos. As cunhas soltaram-se e o atleta ficou preso à árvore, sendo devorado pelos lobos.”

Livro Nossa herança clássica (Will e Ariel Durant)
Imagem: Pankration, ilustração de Tom Lovell (1909-1997).
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